segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Revista Tavola- Literatura & Psicanálise





Saiu a nova edição da Revista Tavola; Esta edição foi elaborada especialmente para o tema Literatura e Psicanálise.

Temos entrevistas com Contardo Calligaris, Antonio Prata, e muito mais...

http://nucleotavola.com.br/revista/category/ed7-112011-literatura-e-psicanalise/


Espero que gostem,
Um abraço!

sábado, 1 de outubro de 2011

Melancolia é uma questão de tempo


Dos expectantes sujeitos que formam casais ante a entrada do filme “Melancolia”, sopram no ouvido um do outro o que já esperam sentir: “Lars Von Trier não nos poupará de sentir o impensável”.

Previsões à parte, um polêmico e criativo cineasta como Lars nunca poderia dar o que o espectador espera.
A melancolia, traço psicológico muitas vezes formado na infância, nos remete a díspares disfunções sociais que trazem questões sempre não totalmente respondidas. Uns acreditam ser a química formada no cérebro a principal causa desse estado inquietante, outros julgam com ardor que a desintegração que demarca o isolamento do melancólico é provocada por certo egoísmo.

Para fazer um filme como este é preciso muita melancolia. E tomando um chá, inebriado por um planeta qualquer que não aparece no céu, que já estagnado por uma seca estação, aguarda algo de novo, seja um planeta chamado “Melancholia”, mote do filme atrás descrito, ou uma lua nova, espero eu também esclarecer algumas dúvidas internas.

Ambos os possíveis astros adquirem ares de novidade por estarem escondidos, por trás das vestes do sol ou das defesas erigidas pelos seres humanos, que através dos muros da insolidariedade (solidariedade é um conceito sem antônimo?), atravessam a carne psíquica dos companheiros, que muitas vezes são tratados como meras funções e não pessoas.

Lars levanta respostas um pouco acima dos planetas fantasiados; A personagem principal (Justine) fica sempre vitimada por uma solidão erguida por seus próprios semelhantes (irmã, pais, marido, chefe e “amigos”) que sempre a tratam como um brinquedo. Não a permitem ser triste. Quando a tristeza é legítima e permitida, é possível ser feliz na melancolia que lhe é própria. Como fugir de um ocaso de tal monta? Através da violência no rechaço de um falso amor que eles tentam em vão iludi-la. O que Justine questiona e a choca, fazendo-a entrar em conflito consigo e com seus familiares é o fato de ela ver sem véus que todas as supostas pessoas amadas que amparam seu viver, na verdade só amam o papel que ela cumpre na vida de cada um deles próprios, só amam o que Justine pode trazer ao narcisismo deles, isto é, ninguém se importa verdadeiramente com ela. E é neste momento que o mundo real sofre um corte em seu interior, sendo impossível um resgate psíquico.

Por um lado ela chega a um perímetro próximo da indiferença em relação aos familiares, mas por outro mostra o fardo que é a exigência da felicidade.

Ela experimenta vagas intuições... Sua irmã e seu cunhado se defenderam até o fim da percepção da realidade, trazida pela sombra de uma verdade negada.

Assim como o sol, que um dia efetivamente vai tombar, ou um planeta colidindo estrelas, a melancolia por todos espera, seja por um trauma, uma falta, ou a aproximação de uma apocalíptica transição da luz para o mistério.

O mundo


O mundo é um lugar sombrio. Uma roda gigante de latitudes e longitudes ainda inexploradas, terrores mal dormidos, poemas mal sonhados.


O mundo é um convite à depressão, à desilusão, à carne mal vestida da anfitriã das felicidades possíveis, o mundo é um convite à dispersão.


O mundo é um astro em rota de colisão, um cometa mal gasto, maltrapilho, ignorado pela Galáxia de Andrômeda.


O mundo é um composto de fenômenos, aliás, vale a pena crer na Aurora Boreal, que não é deveras real.


O mundo é um lugar onde sobram desejos, e um lugar-no-mundo é o que há de mais escasso.


O mundo é um lugar sombrio. Tem pessoas que nascem com medo do escuro. Eu aprendi a ter medo do escuro. O breu é um chão sem assento.


O mundo tem muita luz e ao mesmo tempo muito escuro. Por isso a meia-luz me é cara hoje. Mas a luz do mundo sou eu quem faço. Tem piras de fogo agorinha prontas a se acender na minha mão. Mas estão presas por minha insensatez, barradas por minha inata paixão.


O mundo é uma cabeça quadrada, que insiste que é redonda, pra poder chamar a atenção.

sábado, 2 de julho de 2011

A Instabilidade do Amor



Dizem que a Grande Tragédia é acreditar no amor. Que conversar com Deus, talvez seja mais saboroso. A soma de todos os medos, no final das contas, é estar só.


Sofre a alma humana ao perceber que, no final de todas as somas da vida e dos relacionamentos, o que resta é estar só. A ruptura inesperada ou a morte de um dos cônjuges pode trazer uma alquimia amarga que tomamos sem pedir por ela.


Os eremitas nas montanhas evitam o amor, a atração dos corpos. Para alguns deles, a alma tem de se separar do corpo e da mente. Mas nós, habitantes dos vales baixos, temos a tarefa de lidar com ambos, nosso corpo e mente, e além, o coração.


Os eremitas, na solidão, podem se encontrar. Já no amor, podem se fragmentar. Mas eles vivem o amor. “Praticam” o amor universal, a compaixão. Mas nós, apóstolos do amor romântico, aculturados por um ideal que diz que existirá uma única pessoa que de nós dependerá, temos de estar preparados para os revezes da situação amorosa, que por vezes, nos faz reféns de nós mesmos, adensando a quantidade de conflitos no relacionamento. O que fora criado para um casal ser feliz, inquieta, e com uma gama de conflitos o relacionamento vai esmorecendo, trazendo angústias, traições, separações e irritações, causadas por ambos os parceiros.


Que força é essa que nos leva a repetir de forma comungatória a forma como nos irritamos
com nossos parceiros amorosos? Desde o eremita, nós mesmos (ou o eremita em nós mesmos), escolhemos e temos de sustentar nossas escolhas e desejos. Ontem tive um sonho e nele estava a mulher de meus sonhos. Espero que o sonho baste, pois a realidade, a realidade passa... Comprometer-se com o outro é comprometer-se consigo mesmo. Comprometer-se consigo é ir em direção ao outro; Relaxar na afinidade e na diferença, e com a instabilidade que é a inflexibilidade de um e de outro. Se relacionar é afinar o instrumento do conjunto. O conjunto que é o casal.


Artigo publicado no Jornal O Aprendiz (Junho /2011)

domingo, 27 de março de 2011

Poesia - A Mentira (por Luís Augusto)

Mentimos Vivemos numa mentira coletiva Numa mentira convencionada Mentimos nossa piedade Nossa responsabilidade Nossa competência Nossos sentimentos Mentimos pela justiça igualitária Mentimos pelo lucro justo Mentimos pela preservação do meio ambiente Pelo bem-estar social Pelo desenvolvimento Pela pujança da nossa pátria Pelo cumprimento das metas Pelo que deve ser feito Mentimos para que o errado seja certo E para que o mal seja bem Para que a fome não se mostre Para que os indicadores sociais sejam positivos Para que a vida valha a pena Mentimos para a contabilidade, Mentimos para as estatísticas Para os nossos acionistas Para as planilhas de acompanhamento Para os nossos clientes Para os nossos chefes Mentimos para os nossos pais Para o nosso país Mentimos para o mundo e para a ONU (o que é a ONU, senão uma grande mentira) Mentimos para Deus e por Deus Mentimos para nossos companheiros Mentimos para o fisco e para o banco Mentimos a todo o momento E em tantas situações que mentimos para nós mesmos Mentimos para crermos Luís Augusto T. Morais

quarta-feira, 23 de março de 2011

Maria Bethânia e os milhões

“Maria Bethânia terá 1,3 milhão para criar blog

“A cantora Maria Bethânia conseguiu autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,3 milhão e criar um blog. A ideia é que o site ‘O Mundo Precisa de Poesia’ traga diariamente um vídeo da cantora interpretando grandes obras.”


A maioria já sabe sobre esse episódio, mas vale a pena ler o que André Barcinski da Folha comentou sobre isso em seu blog:

http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/

sábado, 19 de março de 2011

As Redes Sociais


Em tempos das “Redes Sociais”, twitter, facebook, orkut, myspace, e outros, jatos de tinta da impressora são economizados em pró de uma vida pró-ativa na tela, na “rede”. A Internet vem se tornando uma fábrica de ideias e vem tentando tornar nossas vidas mais interessantes do ponto de vista da troca de informações e estabelecimento de novos contatos. É fato que nos enredamos numa teia sem saída? A aranha deixará de produzir sua teia natural para virtualizar suas relações com a barata?

Sonhamos o tempo todo imaginando o que será da tecnologia no dia de amanhã… O que ela poderá nos trazer de novo, que surpreenderá nossos espantos…

Sabemos que a Rede Social “Facebook”, que fora retratada no filme “Rede Social”, foi criada com o intuito de compartilhar fotos, ideias, vídeos, perfis, e muitas adereços mais, potencializando a forma de entrarmos em contato com os outros pela Internet. O filme que conta a história de Marck Zuckerberg, criador do “Facebook”, narra não só os fatos da história da criação, veiculação, e briga pelos direitos do site, mas também narra de forma convincente os conflitos da vida por trás da tela do computador. Marck inicia a criação do site por causa de uma frustração com a namorada. E é vendo o perfil dela, no site que o próprio Mark construiu, que o filme deliciosamente termina. Não há tecnologia que faça voltar uma pessoa que já foi embora de nossas vidas.

Será que poderemos emergir dessa imagem metaforizada de nossos ideais, dessa falsa imagem de quem somos nós? Os vínculos de amizade e de “amor” estão ficando cada vez mais intermediados pela musculosidade de nossos perfis ideais, ideais esses que não compartilham, mas separam. É a “capa dura” e perversa do mundo virtual e sua exposição. Pelo fato de termos tão pouco tempo para vivermos relações “concretas” com as pessoas, a Internet foi tornando nossas relações sociais e as “relações” com a nossa subjetividade cada vez mais automatizadas. Será que temos tão pouco tempo assim? Ou apenas estamos substituindo os “veículos” de “troca”?

Cuidado hein, não temos tempo a perder, pois se pararmos para pensar, o fruto da “Árvore do Conhecimento” já vai ter caído, e não iremos ter tempo de narrar a criação do mundo. O Gênesis estará perdido no labirinto das interconexões da “Rede”.


Caio Garrido.


Lançamento Livro - "Poemas auto-escritos em estado de Sonambulovisão"



A obra “Poemas auto-escritos em estado de Sonambulovisão”, segundo livro de Caio Garrido, é um Inconsciente em ebulição. Para poder existir uma nova poética é preciso que haja um novo olhar frente ao mundo, ao universo e ao criterioso universo de um “Eu” em busca de expansão. Para que seja uma evolução ilimitada de mente, espírito, e coração, a poesia tem que retornar ao Antes do Começo. Um retorno quase “paleolítico”, aos meandros da mente e seus desejos. Caso olharem de frente para os poemas e poesias contidas neste livro, estarão próximos a uma visão que se aproxima da leitura de um mito. Leitura não no sentido concreto, mas de uma abstração em que os processos do pensar se sobrepõem, se misturam, se confundem.


Os “Poemas auto-escritos em estado de Sonambulovisão” nos obrigam, como leitores, a sonhar o tempo todo. É que a poesia é algo tão pessoal e subjetiva que ela só pode ser descrita na vivência auto-sonambúlica do autor. Não obstante a sua capacidade de ser metafísica, ela me parece ser anterior à linguagem quando esta se articula através de letras (sons) e palavras (fonemas). Poesia que refresca como um novo nascimento, podendo nos propiciar uma nova maneira de rimar e sonhar.

Prefácio de David Azoubel.
Arte da Capa: Jonas de Sene.

Lançto.:
Data: 7 de maio a partir das 19:30 hs
Local: Templo da Cidadania
R.Conde Afonso Celso, 333, Rib.Preto

+informações e vendas pelo blog:
http://www.caiogarrido.blogspot.com/


Download do Livro "Pena que foi Ontem"


domingo, 30 de janeiro de 2011

Mia Couto – “Antes de Nascer o Mundo”


Raramente podemos nos deparar com um novo escritor, um novo artista da palavra que o “mundo” pouco conhece, e que pode nos surpreender de maneira inequívoca… Este é o caso do autor moçambicano Mia Couto.


A poesia presente na narrativa em prosa de Mia no Livro “Antes de Nascer o Mundo” impacta de forma crescente o leitor.


O primeiro capítulo já é um convite e um prenúncio da “viagem”: “O Afinador de Silêncios”; Mwanito, o primeiro personagem que aparece no roteiro, é quem começa a contar a história. De forma sensível e surpreendente, descreve cenas que vão ficar para sempre na memória.


A África é mostrada de forma apaixonante, misteriosa e fantástica, através dessa história que se passa na cidade ficcional de Jesusalém.


Aproxime-se do que é um pedaço do livro:
“—Pai, a mãe morreu?
— Quatrocentas vezes.
—Como?
—Já vos disse quatrocentas vezes: a vossa mãe morreu, morreu toda, faz de conta que nunca esteve viva.
—E está enterrada onde?
—Ora, está enterrada em toda parte.”


Só por essa leitura, para mim Mia Couto já pode estar com sua cadeira seleta no Hall dos melhores escritores do mundo. Antes que o Mundo Acabe, dêem uma conferida nesse livro e autor. Sublime…

“Jesusalém, ermo encravado na savana, em Moçambique, abriga cinco almas apartadas das gentes e cidades do mundo. Ali, ensaiam um arremedo de vida: Silvestre e seus dois filhos, Mwanito e Ntunzi, mais o Tio Aproximado e o serviçal Zacaria. O passado para eles é pura negação recortada em torno da figura da mãe morta em circunstâncias misteriosas. E o futuro se afigura inexistente.
Silvestre afiança aos filhos e ao criado que o mundo acabou e que a mulher — qualquer mulher — é a desgraça dos homens. Mas um belo dia os donos do mundo voltarão para reivindicar a terra de Jesusalém. E não só isso: uma bela mulher também virá para agitar a inércia dos dias solitários daqueles homens.
Mia Couto é um dos maiores expoentes da literatura africana de expressão portuguesa. Moçambicano e amante confesso da escrita inventiva do brasileiro Guimarães Rosa, ele é um artista investido do poder mágico e poético das palavras. Mas é da alma do povo de seu país, bela, trágica, alegre, sofrida, enigmática, que este poeta da prosa extrai seu ouro universal.
Em Portugal, Moçambique e Angola, o livro recebeu o título de Jesusalém.”