domingo, 30 de janeiro de 2011

Mia Couto – “Antes de Nascer o Mundo”


Raramente podemos nos deparar com um novo escritor, um novo artista da palavra que o “mundo” pouco conhece, e que pode nos surpreender de maneira inequívoca… Este é o caso do autor moçambicano Mia Couto.


A poesia presente na narrativa em prosa de Mia no Livro “Antes de Nascer o Mundo” impacta de forma crescente o leitor.


O primeiro capítulo já é um convite e um prenúncio da “viagem”: “O Afinador de Silêncios”; Mwanito, o primeiro personagem que aparece no roteiro, é quem começa a contar a história. De forma sensível e surpreendente, descreve cenas que vão ficar para sempre na memória.


A África é mostrada de forma apaixonante, misteriosa e fantástica, através dessa história que se passa na cidade ficcional de Jesusalém.


Aproxime-se do que é um pedaço do livro:
“—Pai, a mãe morreu?
— Quatrocentas vezes.
—Como?
—Já vos disse quatrocentas vezes: a vossa mãe morreu, morreu toda, faz de conta que nunca esteve viva.
—E está enterrada onde?
—Ora, está enterrada em toda parte.”


Só por essa leitura, para mim Mia Couto já pode estar com sua cadeira seleta no Hall dos melhores escritores do mundo. Antes que o Mundo Acabe, dêem uma conferida nesse livro e autor. Sublime…

“Jesusalém, ermo encravado na savana, em Moçambique, abriga cinco almas apartadas das gentes e cidades do mundo. Ali, ensaiam um arremedo de vida: Silvestre e seus dois filhos, Mwanito e Ntunzi, mais o Tio Aproximado e o serviçal Zacaria. O passado para eles é pura negação recortada em torno da figura da mãe morta em circunstâncias misteriosas. E o futuro se afigura inexistente.
Silvestre afiança aos filhos e ao criado que o mundo acabou e que a mulher — qualquer mulher — é a desgraça dos homens. Mas um belo dia os donos do mundo voltarão para reivindicar a terra de Jesusalém. E não só isso: uma bela mulher também virá para agitar a inércia dos dias solitários daqueles homens.
Mia Couto é um dos maiores expoentes da literatura africana de expressão portuguesa. Moçambicano e amante confesso da escrita inventiva do brasileiro Guimarães Rosa, ele é um artista investido do poder mágico e poético das palavras. Mas é da alma do povo de seu país, bela, trágica, alegre, sofrida, enigmática, que este poeta da prosa extrai seu ouro universal.
Em Portugal, Moçambique e Angola, o livro recebeu o título de Jesusalém.”