quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A magia do gol contra

“Mostra tua força Brasil!”
Bordão dos únicos, exemplar vivaz do desejo dos brasileiros nos últimos meses, fez parte do itinerário cântico de todos nós.
Era 12 de junho: Todos com os corpos besuntados de verde amarelo, louros com um arsenal de badulaques, rixas avivando-se, xingamento aos representantes, mãos agitando-se com ingressos de ouro e origem duvidosa, ao ritmo das batucadas imaginárias e vozes em coro: “Com muito orgulho com muito amor”; O astral lá nas alturas das grandezas que nos projetamos.
Aos 10 minutos: Gol contra. Um 1º gol irrepresentável, num jogo que deveria ser inesquecível. Um prenúncio daquilo que já correspondia ao nosso grito bege?
Era preciso acreditar, ter fé no brasileiro. Mas outras contradições foram aparecendo na jornada: Sou aquele que xinga ou o que permite a existência de meu rival? Sinto-me identificado àquele que rouba, mas faz? Devemos nos espelhar nos europeus ou no nosso avesso sul-americano?
No campo, um Brasil de pijamas, envelhecido por um vazio de identidade.
O futebol é apenas um jogo, diziam, para minimizar a frustração.
Mas é preciso falar de uma crise de identidade no brasileiro. O quanto o futebol deflagraria isso?
O futebol, como fenômeno global e respectiva paixão envolvida, é história de uma nação e sua relação com o outro, e do comportamento em relação às suas dores e lutas.
Uma derrocada acachapante selou o destino final da seleção, deixando uma marca profunda em nosso narcisismo. Como diz a psicanalista Betty Milan: “Será que a improvisação vale mais que o planejamento? Por sabermos improvisar ou por sermos viciados na improvisação?”
Para evoluirmos nosso senso de identidade a cultura não pode seguir estanque. Deve abarcar qualidades e exemplos de outras sem perdermos a essência da nossa.

Estes acontecimentos, além das recentes manifestações, mostram um chamamento para algo que não é mais possível ignorar. A indignação não é com os políticos ou dirigentes, mas com nós mesmos.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Cenas

Se chuva quente ou fria, fruía sempre verões que brasas não me acendiam não posso me acalmar diante de suas tensões noturnas, que copulam comigo e tantas outras, madre teresas, em Calcutá, Bogotá, Chile, posso ficar nua se quiser, tirar meu xale, enrolar-te em formas sinuosas de estrada perigosa desde que fomos cantar à beira mar e o peixe pulou em minhas costas e latejava latejava que dava prazer pela primeira vez sentia alguma coisa, ele não era páreo pra você, vira lata come sujo todas fontes de cheiros indesejáveis como quando te peguei na cama fazendo arfar com aquela, com aquela cigarra, gritos estridentes os dela, beirando meu colapso.

Máxima culpa apertada a sua de enfeixar então minhas coxas num membro só, que de tantas apunhaladas ainda sobrevive sem nexo em suas dobras, estendidas por sobre seu rosto, querendo-te fazer meu, fazendo de contas que virando e mexe um suor só seria o suficiente pra me fazer em estupor de prazer infinível.

O tempo termina assim... que sai e você da rua acena insuportável pra janela de mim fora de mim insípida estou então tão terrena, jogando fora suas roupas, seus credos, assim como opções estúpidas digo que sou tola mesmo assim, não podia me aparar cortando os cabelos, touca pobre de obstar filhos, insuportáveis que são, berrando do outro lado da parede gasta com roncos seus que me faziam acordar então só e furtada de meu sono breve sem sonhos que era estar vigiando aquela trupe de circo que faria todos nós felizes, porque não? uma tropa de moleques e nanas nenês quentes durante a noite, trocando suas fraldas seu velho babaca que só quer subir de bondinho sem risco algum que criança não trocaria por nada aquele friozinho de barriga cheio de energia pra dar, entrega de quando em quando uma ou duas pizzas que sumidas pelo vinho branco me azeita até chegar à superfície o líquido branco que então me faz lembrar de sua tia e suas tetas apostadoras, intuição para fins de acordo específico entre eu você.

Não, não há acordo, desde que eu me enxergue inteira inefável um dia inteiro sem sequer sair do berço fui então amparada ao cair, caí como quem veste uma roupa de supetão como a vez sem direção arrancou os botões de minha calça jeans que inflava ao receber-te assim tão inteiro, tenha dó de mim, por favor não se vá, não, me deixe tonta mais uma vez, sobe depressa em minhas costas, Jerusalém em dois passos, maomé deitado em minha cama faço dele um campeão, já faz tempo que cruzei com você no avião, olhando jeitoso pros meus lábios que não sabiam sorrir, uma intenção dourada crescia veloz, ah meu deus, aquele dia fiquei com medo da morte, não era o avião, ah, delícia suspensa daquele jeito em seus braços, interrompida pelo toque de cartas se soubesse a profecia.

Desde então o balanço me persegue. Nada como aquele dia.


Não me encontre deitada. Não se esqueça de mim. Não faça de conta que sempre estará aí, pronto a me pegar no colo e embalar-me enfim.